Religião
Estudos Bíblicos Tabernáculo – Um lugar da habitação de Deus
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Saudações, amados professores e alunos da Escola Dominical! Estamos iniciando um riquíssimo, embora não fácil, estudo dentro daquilo que em teologia chamamos de tipologia bíblica. É uma disciplina onde Antigo e Novo Testamento se cruzam, este explicando aquele, e aquele prenunciando este. Leitura atenta, interpretação cuidadosa e perseverança no estudo serão virtudes imprescindíveis para a correta interpretação dos textos bíblicos e das Lições dominicais que estaremos trabalhando ao longo destes três meses. O poço é fundo, mas a água está pela boca, então bebamos e saciemo-nos em tão empolgante estudo sobre a relação entre o Tabernáculo de Moisés e a obra redentora de Cristo Jesus!
I. A parceria de Deus com seu povo para a construção do Tabernáculo
1. Por que construir um Tabernáculo no deserto?
Antes da construção do Tabernáculo propriamente, Moisés já havia fabricado no deserto a chamada “tenda do encontro”, uma tenda rudimentar onde o Senhor se encontrava com Moisés e ali falava com ele. Mas prestemos atenção aos detalhes na descrição bíblica desse lugar:
“Ora, Moisés costumava pegar a tenda e armá-la para si, fora, bem longe do arraial. Ele a chamava de ‘tenda do encontro’. Todo aquele que buscava o SENHOR saía à tenda do encontro, que estava fora do arraial” (Êx 33.7, NAA)
A tenda do encontro de Moisés ficava fora e bem longe do arraial. Certamente Moisés tomara a iniciativa de construir essa tenda incipiente porque precisava estar em comunhão com Deus num espaço reservado, onde pudesse receber dEle suas orientações para comunica-las ao povo; e construí-la fora e distante do arraial certamente foi uma decisão motivada pela profunda reverência para com a santidade de Deus. Onde Deus se manifesta, “é terra santa” (Êx 3. 5).
Entretanto, Deus parecia não estar satisfeito revelando-se a Moisés fora e bem longe do arraial, então lhe diz:
“Diga aos filhos de Israel que me tragam uma oferta. De todo homem cujo coração o mover para isso… E farão para mim um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Êx 25.8)
Perceba a ênfase: “no meio deles”. A tenda do encontro já não ficaria mais fora, mas no meio do arraial dos hebreus; a presença de Deus não se manifestaria distante, mas bem próximo a eles, e as tribos de Israel se assentariam em sua volta (Nm 2.2)! O Deus que é excelso e transcendente, que nem mesmo os céus podem conter a sua presença (1Re 8.27), toma a iniciativa de aproximar-se mais e mais dos homens. Ele não quer distância, Ele quer proximidade! Isso é religião, é Deus vindo em busca dos homens, para restabelecer a ligação com eles. Os que aceitarem seu gesto de graça, o conhecerão mais de perto; os que recusarem, permanecerão à distância, para seu próprio prejuízo. “Ainda que o Senhor é excelso, atenta todavia para o humilde; mas ao soberbo conhece-o de longe” (Sl 138.6).
As considerações acima apontam para a primeira e certamente a mais importante razão para construção da tenda da comunhão e adoração portátil no deserto: Deus queria habitar junto dos homens. Isso porque Ele é transcendente (distinto e superior à sua Criação), mas é também imanente, isto é, próximo de nós. É o Pai nosso que está nos céus, mas é também o Senhor que traz a nós o seu reino (Mt 6.9,10), como já estudamos na última Lição do trimestre passado. Porque é transcendente devemos reverenciá-lo; porque é imanente devemos amá-lo! O deísmo ensina que se Deus existe, está longe demais para se importar e se relacionar conosco. Todavia, Deus existe e está mais perto de nós do que o ar que nós respiramos! “Toda a terra está cheia da sua glória” – era o cântico dos serafins na maravilhosa visão do profeta Isaías (Is 6.3). Ele queria o Tabernáculo no meio, perto, junto ao povo de Israel, assim como Ele almeja estar centralizado em nossas vidas!
O pastor Elienai Cabral elenca, além desta, outras razões para a construção do Tabernáculo [1]:
– Antecipar, através de tipos ou figuras, as glórias que viriam depois. Esta antecipação das realidades futuras começaram a se cumprir em Cristo, agora através da Igreja, e, no porvir, nas regiões celestiais.
– Ensinar o conflito entre a santidade de Deus e a pecaminosidade do homem. Especialmente os sacrifícios exigidos para expiação de pecados e o véu que separava o lugar Santo do Santíssimo ilustram bem a seriedade da santidade divina ao mesmo tempo em que evidenciam a gravidade do pecado humano, que “faz separação entre vós e o vosso Deus” (Is 59.2)
– Estabelecer um lugar de adoração e louvor a Deus. Com o passar do tempo, e mais ainda com a construção do grande templo de Salomão, que tomou o lugar da tenda provisória do deserto, aquele ambiente se configurava de fato como ambiente de louvor e adoração (se aproximando muito do culto participativo do Novo Testamento). A princípio, fora um ambiente reservado para sacrifícios, ofertas e manifestação divina.
– Ordenar um lugar para os sacrifícios pelos quais o povo pudesse ter seus pecados expiados e a presença provedora, fortalecedora e protetora de Deus garantida no seu meio.
2. A materialização da obra de Deus
A idealização do projeto provinha de Deus, mas Ele não construiria o Tabernáculo milagrosamente e o daria pronto à Moisés. O grande Tabernáculo eterno, ou seja, a nova Jerusalém, a cidade santa e celestial, capital do reino eterno do Senhor, está sendo construído pelo próprio Deus (Jo 14.2; Ap 21.1-3), enquanto que o Tabernáculo terreno fora “feito por mãos humanas” e é apenas “figura” do verdadeiro (Hb 9.24).
Deus firmou parceria com os hebreus para construção do Tabernáculo. Isso porque Ele é o Deus que se relaciona com as suas criaturas e faz de nós cooperadores seus. Orienta Moisés para que chame o povo a ofertar com vários materiais necessários para aquela grande empreitada, mas que o façam voluntariamente e não por obrigação (Êx 25.1-8; 35.5-9). De fato, o povo demonstrou grande prontidão e liberalidade na contribuição: “Os filhos de Israel trouxeram oferta voluntária ao Senhor, a saber, todo homem e mulher cujo coração se dispôs para trazerem uma oferta para toda a obra que o Senhor havia ordenado que se fizesse por meio de Moisés” (Êx 35.29). É bom quando suavemente respondemos ao chamado de Deus e aceitamos ser parceiros seus em sua obra!
O apóstolo Paulo disse que nós somos “cooperadores de Deus” (1Co 3.9). A palavra no texto grego para “cooperadores” (synergoi) tem a mesma origem de uma palavra não muito popular em língua portuguesa, mas bem conhecida no mundo empresarial: sinergia ou sinergismo. Sinergia é o trabalho feito em cooperação por duas ou mais pessoas; é a união de forças com vistas a alcançar o mesmo propósito. Aquele que criou os céus e a terra (Gn 1.1) poderia fazer sozinho tudo o que deseja fazer; no entanto, como quer se relacionar com suas criaturas, dá a elas a sabedoria e a capacidade para serem cooperadores dEle em suas obras. Que privilégio é ser companheiro do Todo Poderoso! Ele é autossuficiente, mas nos chama para cooperar com Ele. Não porque precisa de nós, mas porque nos quer junto dEle! Novamente, que privilégio o nosso!
Como para a construção do Tabernáculo em que ofertas e esforço humano se fizeram necessários, os empreendimentos divinos hoje em dia continuam demandando igual cooperação de nossa parte. Ofertando, dizimando, empregando habilidades e talentos naturais, gastando e nos deixando gastar (2Co 12.15) na obra de Deus… Tudo isso deve ser feito, como nos dias passado, com voluntariedade e liberalidade, afinal é Deus quem dá a semente ao que semeia – ora vejam, até a semente para plantarmos quem dá é Deus! (2Co 9.10).
Ao invés da insatisfação, da avareza, do egoísmo ou suspeita de estarmos contribuindo em vão, deveríamos encarar nossa participação nos empreendimentos missionários, evangelísticos e eclesiásticos como um imenso privilégio! Sejamos parceiros da obra de Deus e não tenhamos medo que algo venha a nos faltar, pois é no partir do pão que vem a multiplicação! Confiemos nesta Palavra, que não falha: “Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra” (2Co 9.8).
II. O tabernáculo foi um projeto de Deus
1. Deus arquitetou o tabernáculo
Diferentemente do grande Templo nos dias dos reis de Israel, idealizado por Davi e construído por Salomão, o Tabernáculo do deserto foi idealizado por Deus e construído sob suas ordens e diretrizes. A construção do Tabernáculo foi feita conforme “o manual do fabricante”, que revelou a Moisés no monte Sinai todas as imagens quanto ao Tabernáculo e seus utensílios. “Segundo tudo o que eu mostrar a você como modelo do tabernáculo e modelo de todos os seus móveis, assim vocês o farão”, disse Deus a Moisés (Êx 25.9).
Deus não apenas disse a Moisés o que fazer e como fazer, mas mostrou a Moisés o que deveria ser feito. Isso é pedagógico: aprendemos mais quando vemos do que apenas quando ouvimos. Deus, como o grande Pedagogo do universo, gosta de usar imagens, ilustrações, visões, revelações, pelos quais sua mensagem possa ser recebida com maior clareza por aqueles a quem ele deseja ensinar o caminho da retidão. Nós que ensinamos a Palavra de Deus hoje precisamos aprender com o Senhor a usar ilustrações, recursos visuais pelos quais a mensagem que comunicamos seja melhor compreendida pelos nossos ouvintes. Aliás, para exposição das aulas deste trimestre os recursos visuais serão indispensáveis! Como falar do Tabernáculo sem apresentar aos alunos ilustrações daquele antigo templo portátil? Há um caminho belíssimo entre o altar do holocausto, fora do santuário, e o lugar santíssimo que guarda a arca da aliança – caminho este que visualmente forma uma cruz, cruz que Jesus carregou e na qual foi pendurado para salvação de nossas almas! E a cruz de Cristo nos ensina que ninguém chegará ao lugar santíssimo, isto é, a presença de Deus, sem que primeiro passe pelo altar do holocausto, que prefigura a própria morte do Filho, o Cordeiro de Deus imolado para propiciação de nossos pecados.
2. O plano térreo do tabernáculo
As dimensões do tabernáculo, incluindo o pátio cercado por cortinas, não era imenso, mas relativamente pequeno: 50 metros de fundo por 25 metros de largura. É inusitado refletirmos como Deus pôde ter dito que habitaria ali naquela tão modesta tenda (Êx 25.8). Muitos de nós habitamos em casas com uma área construída bem maior que a do Tabernáculo, mas vejamos só: o infinito veio habitar no finito; aquele que nem mesmo os céus podem contê-lo e diante de quem as colunas do céu estremecem, veio habitar em tenda feita por mãos humanas, fabricada de madeira, metais e pano. Deus é mesmo surpreendente! Enquanto nós buscamos as ricas mansões e os lindos palacetes em regiões metropolitanas, Deus buscou uma pequena casa portátil no meio do deserto. Resta dúvidas de que há algo errado em nossa velha mania de grandeza?
É claro que a presença física de Deus não estava – nunca esteve! – limitada ao ambiente tabernacular, pois Ele é espírito, eterno e imensurável. Todavia, manifestações teofânicas ocorriam ali, a santidade de Deus estava ali, a voz divina se fazia ouvir dali, e seu nome estava ali colocado para que fosse adorado, reverenciado e amado pelo seu povo! (Dt 12.11; 14.23; 26.2). Havia um tesouro de inestimável valor no interior do frágil Tabernáculo, e não me refiro ao ouro que revestia o interior da tenda, mas a própria presença de Deus que ali se manifestava; assim como nós hoje temos um tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós (2Co 4.7).
As devidas partes e utensílios que constituíam o tabernáculo serão detalhadamente estudadas em cada uma das lições seguintes deste trimestre. Hoje apenas teremos uma visão geral, panorâmica, das divisões do tabernáculo. Na internet é possível encontrar muitas ilustrações coloridas sobre aquela tenda da adoração. Evidentemente, nenhuma delas é perfeita, pois embora a Bíblia nos ofereça detalhadas descrições (conferir os 13 capítulos de Êxodo 25 – 31 e 35 – 40), há ainda outros detalhes sobre a construção que não são informados no texto, mas que Moisés com toda certeza os sabia, já que viu o desenho do Tabernáculo e de cada uma de suas peças enquanto estava com Deus no monte Sinai. Tudo foi feito exatamente como mostrado. Porém, a nós não foi dado ver o Tabernáculo, mas apenas ler sobre ele. Por isso, perdoemos as limitações dos ilustradores que eventualmente venham a falhar; em todo caso, merecem nosso apreço por tão dedicado trabalho de facilitar para nós a compreensão do texto sagrado e de suas lições espirituais.
(a) Pátio ou Átrio. Era a parte externa do Tabernáculo, cercada por cortinas brancas de “linho fino torcido” e que alcançavam os dois metros de altura. Ninguém de fora podia ver o que acontecia ali, a menos que adentrasse com uma oferta para o holocausto. No pátio estavam as duas primeiras peças: o altar do holocausto (cujo fogo devia ser mantido acesso continuamente) e também a pia de bronze onde os oficiais do culto (sacerdotes e levitas) se lavavam. Mesas para o sacrifício de animais e bacias para o sangue ser carregado também ficavam ali. Era o mais próximo que os homens comuns podiam chegar do santuário propriamente.
(b) Altar do holocausto. De frente para a porta de entrada, feito de madeira revestida em bronze, era o altar onde se queimavam as ofertas pelo pecado. Sacrifícios eram oferecidos ali diariamente. Nem o sacerdote poderia entrar no santuário, nem o sumo sacerdote poderia entrar no lugar Santíssimo, a menos que se oferecesse oferta pelo pecado neste altar. Somente os limpos de coração podem chegar a Deus! (Mt 5.8)
(c) Pia de bronze. Confeccionado com espelhos de bronze ofertados pelas mulheres – Deus abençoe as colaboradoras femininas de sua obra! – a pia de bronze era o lavatório dos oficiais do culto. Para entrar na presença de Deus é preciso primeiro a lavagem “da água da palavra” (Ef 5.26).
(d) A tenda do testemunho. Era o tabernáculo propriamente dito, a casa portátil, a “casa de ouro”, como chamou Jan Rouw e Paul Kiene, devido estar revestida de ouro em seu interior. Dividida em dois ambientes: o lugar Santo e o lugar Santíssimo, ou Santo dos Santos, separados por um grosso e pesado véu. Como bem pontua a nota de rodapé para Êxodo 25.9 da Bíblia de Estudo Pentecostal, “Era chamado o ‘Tabernáculo [ou tenda] do Testemunho’ (38.21) porque continha os dez mandamentos. Os dez mandamentos lembravam sempre ao povo da santidade de Deus e das suas leis sobre o viver do seu povo escolhido”.
(e) Lugar Santo. Primeiro ambiente do santuário, onde somente os sacerdotes e sumos-sacerdotes podiam entrar e ministrar. Os demais levitas, auxiliares do culto, só podiam trabalhar no pátio externo. No lugar santo ficavam três utensílios revestidos de ouro: (1) candelabro, para manter o ambiente iluminado, já que era todo fechado, sem ventilação e sem luz externa; (2) mesa dos pães da proposição, com doze pães representando as tribos de Israel e o alimento que Deus era para elas; (3) o altar do incenso, junto ao véu que separava o Santo do Santíssimo, e onde especiarias aromáticas eram oferecidas a Deus, exalando bom odor no santuário. Diariamente os sacerdotes entravam nesse ambiente para ministrar ao Senhor.
(f) Lugar santíssimo. A parte que demandava maior reverência em todo o Tabernáculo, porque ali estava guardada a arca de ouro, chamada de “arca da aliança” ou “arca do testemunho”, que guardava em seu interior as tábuas dos mandamentos, a vara de Arão que floresceu e um pouco do maná do deserto. Por cima desta arca (literalmente caixão ou baú), estava a tampa do propiciatório, com imagens de dois querubins alados esculpidas e sobre a qual o apenas o sumo-sacerdote, e apenas uma vez ao ano no Dia da Expiação, oferecia oferta a Deus por todo o povo.
III. A relação tipológica entre o tabernáculo e a Igreja
1. O que é tipologia?
Uma das primeiras coisas de que precisamos nos inteirar nesse início de trimestre é sobre a tipologia bíblica. Afinal, todos as nossas Lições trabalharão com tipos de Cristo, da Igreja e do céu. Tipologia é o estudo dos tipos, e o tipo bíblico é, nas palavras de Abraão de Almeida, “uma representação pré-ordenada, pela qual pessoas, eventos e instituições do Antigo Testamento prefiguram pessoas, eventos e instituições do Novo Testamento. São figuras, ou lições, pelos quais Deus tem ensinado a seu povo o seu plano redentor e seus elevados propósitos para a vida cristã. São uma mostra de coisas vindouras e não a verdadeira imagem dessas coisas (Cl 2.17; Hb 8.5; 10.1)” [2].
Tipos não são parábolas nem metáforas, mas pessoas, coisas ou fatos reais que serviram para ilustrar verdades igualmente reais, porém, espirituais e superiores aos próprios tipos. Os tipos são sombras que antecipam a realidade, e a realidade é chamada de antítipo. Por exemplo, Adão é um tipo de Cristo, logo, Cristo é o antítipo de Adão (Rm 5.14). A palavra grega para tipo é typos, e pode ser traduzida por “exemplo”, “modelo” ou “figura”. No estudo da tipologia bíblica, três coisas são importantes serem destacadas:
(1) Os tipos estão no Antigo Testamento, enquanto os antítipos estão no Novo Testamento. Não há tipos no Novo Testamento;
(2) Os tipos foram idealizados por Deus e não são mera interpretação teológica;
(3) É preciso moderação e cautela na interpretação dos tipos, buscando ater-se ao máximo à revelação e iluminação neotestamentária, com vistas a evitarmos interpretações abusivas e fantasiosas dos tipos veterotestamentários.
Este último ponto requer muita atenção. Por exemplo, a Bíblia em ordem cronológica (editora Vida), traz um estudo que, a nosso ver, exagera na interpretação da tipologia bíblica ao afirmar que “Jesus nasceu na mesma época em que nasciam os cordeiros da Páscoa”, devido João Batista tê-lo chamado de “cordeiro de Deus”, e que “o ‘macho de um ano’ (Êx 12.5) nascia no mês de abril, um ano antes da Páscoa”; sem uma conexão necessária entre os fatos, o estudo segue dizendo que “o véu, então parte do tabernáculo, foi levantado pela primeira vez no Sinai em 1° de abril de 1461 a.C. (Êx 40.17)”, e que em vistas do véu representar o corpo de Jesus (Hb 10.5,10,20), o estudo conclui que “essa é uma evidência de que Jesus nasceu em 1° de abril”. Confuso e exagerado! A tipologia bíblica não pretende servir como régua definidora de doutrina, nem muito menos recurso aferidor de datas, nomes de pessoas, lugares ou eventos secretos. Definitivamente não é possível concluir, nem é adequado especular, o nascimento de Jesus com base na tipologia, pois esse seria um uso abusivo dos fatos e uma extrapolação dos limites do sentido de cada tipo.
2. A importância dos aspectos tipológicos do tabernáculo
Elienai Cabral destaca que “cada detalhe da estrutura física, seus objetos, metais e madeiras, tecidos e bordados, peles e cores, estavam na mente de Deus como significados simbólicos e tipológicos voltados para revelar o seu caráter e a sua glória” [3]. Tanto o apóstolo Paulo quanto o autor da carta aos Hebreus destacam o valor dos tipos do Antigo Testamento:
“Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras [gr. typos], e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (1Co 10.11)
“Os quais servem de exemplo [gr. hypodeigma] e sombra [gr. skia] das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo [gr. typos] que no monte se te mostrou” (Hb 8.5)
Na famosa obra do início do século passado, Ada Habershon explica as razões para estudarmos os tipos bíblicos:
O próprio Deus lhes atribui muito valor. Foi seu Espírito quem os projetou; Hebreus nos ensina, pois, que na construção do Tabernáculo todos os pormenores foram por ele planejados. Ao falar do véu que dividia o Lugar Santo do Santo dos Santos, o escritor diz: ‘Com isto, o Espírito Santo estava mostrando que ainda não havia sido manifestado o caminho para o Santo dos Santos, enquanto ainda permanecia o primeiro Tabernáculo’.
Havia significado naquele véu; não era mera cortina divisória entre as duas partes do Tabernáculo, mas tinha o propósito de transmitir uma lição grandiosa. [4]
De fato, como veremos ao longo deste trimestre, tanto os utensílios, como os metais e tecidos, as cores e até o cumprimento de cada mobília ou ambiente do tabernáculo prefiguravam pessoas ou eventos do Novo Testamento e da eternidade.
3. A Igreja de Cristo é o tabernáculo de Deus na terra
A principal referência dos tipos é a própria pessoa do Senhor Jesus. Suas obras e seu povo – a Igreja – também estão tipificados nos eventos do Antigo Testamento. A eternidade de glória também está prefigurada, especialmente pelo lugar santíssimo do Tabernáculo e a presença bendita de Deus que ali se manifestava. Como pontuou Habershon, Aquele que é prefigurado nos tipos não é um mero homem, mas é Iavé Deus – o grande EU SOU.
O apóstolo João diz que “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, glória como a do unigênito do Pai” (Jo 1.14). A palavra grega para habitou é skenoo, que significa montar tenda ou tabernáculo. Literalmente João está dizendo que Jesus tabernaculou entre nós! Assim como Deus manifestava no tabernáculo de Moisés sua glória (hb. kabod, e não shekinah, como se acostumou pensar devido uma tradição judaica extra-bíblica), em Cristo Deus manifestou sua glória (gr. doxa) ainda mais poderosa. Por isso é que João diz em seguida: “e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. Se Deus, de alguma forma se reduziu, para habitar no tabernáculo de Moisés, Cristo, que é Deus encarnado, se esvaziou a si mesmo (Fp 2.7), vestindo pele humana e sujeitando-se às limitações da vida terrena. Com que objetivo? Aproximar-se ainda mais de nós! Já que o homem feito à semelhança de Deus no Éden havia se vendido ao pecado, agora, o próprio Deus se faz semelhante aos homens para resgatá-los do pecado e compartilhar conosco a sua glória, glória maior que a do paraíso terreno nos primórdios da criação!
Agora, é no interior de cada salvo que Cristo monta o seu Tabernáculo, a sua casa (“Eu e o Pai viremos para ele e faremos nele morada” – Jo 14.23), até que venha o Tabernáculo eterno de Deus, a cidade santa, a nova Jerusalém, onde não mais provisoriamente, mas eternamente estaremos com o Senhor! (Ap 21.2,3).
Conclusão
O trimestre está só começando. A Lição de hoje foi uma introdução a todo o trimestre. Os pontos aqui abordados serão melhor detalhados a partir da próxima Lição e aos poucos compreenderemos com o auxílio do Espírito Santo a “profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus” (Rm 11.33) no que concerne ao Tabernáculo de Moisés como prefiguração de Jesus Cristo, de suas obras, de sua Igreja e do seu plano maravilhoso para nossa salvação eterna!
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Referências
[1] Elienai Cabral. O tabernáculo: símbolos da obra redentora de Cristo, CPAD, pp. 16-19
[2] Abraão de Almeida. O tabernáculo e a Igreja, 3° ed., CPAD, p.13
[3] Elienai Cabral. Op. cit., p. 8
[4] Ada Habershon. Manual de tipologia bíblica, Vida, p. 17